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Carry Nation

Minha Joana de Arc sem pátria!
Minha Santa Teresa humana!
Estúpida como todas as santas
E militante como a alma que quer vencer o mundo!
É no vinho que odiaste que deves ser saudada!
É com brindes gritados chorando que te canonizaremos!

Saudação de inimigo a inimigo!
Eu, tantas vezes caindo de bêbado só por não querer sentir,
Eu, embriagado tantas vezes, por não ter alma bastante,
Eu, o teu contrário,
Arranco a espada aos anjos, aos anjos que guardam o Éden,
E ergo-a em êxtase, e grito ao teu nome.

Carry Nation

My Joan of Arc with no motherland!
My human St. Theresa!
Stupid in the way all saints are
And as militant as the soul that hopes to conquer the world!
You should be toasted with the wine you hated!
We will canonize you by raising our glasses and weeping!

A salutation from enemy to enemy!
I, who so often got falling-down drunk simply because I didn’t want to feel,
I, who was so often the worse for wear because I didn’t have soul enough,
I, your opponent,
I snatch the sword from the angels, the angels guarding Eden,
And raise it up in ecstasy and call out your name.

Carry Nation

Não uma santa estética, como Santa Teresa,
Não uma santa dos dogmas,
Não uma santa
Mas uma santa humana, maluca e divina,
Materna, agressivamente materna,
Odiosa, como todos os santos,
Persistente, com a loucura da santidade.
Odeio-a e estou de cabeça descoberta
E dou-lhe vivas sem saber porquê!
Estupor americano aureolado de estrelas!
Bruxa de boa intenção...
Não lhe desfolhem rosas na campa,
Mas louros, os louros da gloria.
Façamos-lhe a glória e o insulto!
Bebamos á saúde da sua imortalidade,
Esse vinho forte de bêbados.

Eu, que nunca fiz nada no mundo,
Eu, que nunca soube querer nem saber,
Eu, que fui sempre a ausência de minha vontade,
Eu te saúdo, mãezinha maluca, sistema sentimental!
Exemplar da aspiração humana!
Maravilha do bom gesto e da grande vontade!

Carry Nation

Not an aesthetic saint like St. Theresa,
Not a dogmatic saint,
Not a saint at all
But a human saint, crazy and divine,
Maternal, aggressively maternal,
Odious, like all saints,
Persistent, with the insanity of sainthood.
I hate her, and yet I take off my hat to her
And for reasons unknown, I cheer her!
American stupor haloed with stars!
A witch with good intentions…
Don’t throw rose petals on her grave,
But laurels, the laurels of glory.
Let us both glorify and insult her!
Let us drink to the health of her immortality
With the strong wine of hardened drinkers.

I, who never did anything in the world,
I, who never knew how to love or to know,
I, who was always an absence of will,
I toast you, mad little mother, sentimental system!
Exemplar of human aspiration!
Marvel of the kind gesture and the iron will!

Chega através do dia de névoa alguma cousa do esquecimento.
Vem brandamente com a tarde a opportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inutil dizer-me que as ações têm consequências.
É inutil eu saber que as ações usam consequências.
É inutil tudo, é inutil tudo, é inutil tudo.

Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante annunciado,
De ir ao caes ver entrar o navio e ter pena de tudo.

Não vem com a tarde oportunidade nenhuma.

With this misty day comes a kind of forgetting.
Wafting gently in on the evening comes the opportunity for loss.
In the damp air of life I fall asleep without sleeping.

It’s useless telling me that all actions have consequences.
It’s useless my knowing that all actions use consequences.
Everything is useless, everything is useless, everything is useless.

With this misty day comes nothing at all.

Just now I felt
Like going to wait for the promised traveler to arrive on the Europe train,
To go to the quay and see the ship come in and feel sad about everything.

Wafting in on the evening comes no opportunity at all.

Estou cansado da intelligencia.
Pensar faz mal ás emoções.
Uma grande reacção apparece.
Chora-se, de repente, e todas as tias mortas fazem chá de novo
Na casa antiga da quinta velha.
Pára, meu coração!
Socega, minha esperança facticia!
Quem me dera nunca ter sido senão o menino que fui...
Meu somno bom porque tinha simplesmente somno e não ideas que esquecer!
Meu horizonte de quintal e praia!
Meu fim antes do principio!

Estou cansado da intelligencia.
Se ao menos com ella se percebesse qualquer cousa!
Mas só percebo um cansaço no fundo, como pairam na taça
Aquelas cousas que o vinho tem e amodorram o vinho.

I’m weary of the intellect.
Thinking is bad for the emotions.
There’s always an over-reaction.
You suddenly burst into tears, and there are all your dead aunts making tea
In the old house on the old estate.
Heart, stop it!
Factitious hope, calm down!
If only I could never have been anything but the child I was…
Sleeping soundly simply because I was sleepy and had no troubling thoughts
to forget!

My horizon of garden and sea!
My end before my beginning!

I am weary of the intellect.
If only it could be used to know something!
But all I know is this deep-seated weariness, like the dregs
That float around in a glass of wine and weary the wine.

Bicarbonato de Soda

Subita, uma angustia...
Ah, que angustia, que nausea do estomago á alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metaphysico os meus propositos todos!

Uma angustia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cahir os braços ao sol-pôr do exforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gladio e fim todos os Deuses e a negação d’elles.

Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estomago e na circulação do
sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cerebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E--xis--tir...

Meu Deus! Que buddhismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,
Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Accidente da inconsequencia da superficie das coisas,
Monotono mas dorminhoco,

E que brisas quando as portas e as janellas estão todas abertas!
Que verão agradavel dos outros!

Dêem-me de beber, que não tenho sêde!

Bicarbonate of Soda

A sudden anguish…
Ah, what anguish, what nausea in the soul!
What so-called friends I’ve had!
How utterly empty every city I’ve visited!
What metaphysical garbage all my plans!

An anguish,
A despondency in my soul’s epidermis,
A despair at the setting sun of all effort…
I renounce.
I renounce everything.
I renounce more than just everything.
I renounce by the sword all the Gods and those who deny them.

But what is it that I lack, what is it that I feel I lack in my stomach and my
circulation?
What vapid befuddlement stultifies my brain?

Should I take something or kill myself?
No: I am going to exist. Damn it! I am going to exist.
E-x-ist…
E—x—ist…

Dear God, what buddhism chills my blood!
A renunciation of all open doors,
Faced by the landscape of all landscapes,
Without hope, free,
Without ties,
An accident of the inconsequentiality of the surface of things,
Monotonous but sleepy,
And what breezes waft in when all the doors and windows are open!
What a delightful summer other people enjoy!

I’m not thirsty, but give me a drink!